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Os detalhes por trás do romance New Adult

Cinquenta-Tons-de-Cinza-de-E-L-JamesO clichê que mais agrada os leitores. O que torna os livros New Adult tão amados pelo seu público? Qual a diferença entre ele e a leitura Young Adult? E as mulheres, como são representadas?

A literatura New Adult começou a ser reconhecida depois do sucesso repentino de 50 Tons de Cinza, da autora E.L.James. O livro é cercado de críticas por diversos motivos, mas mesmo assim encantou, em sua maioria mulheres, pelas sua narrativa envolvente, personagens bem marcados e descrições intensas do sexo entre o casal.

Porém, aqueles mais inseridos no universo literário criticam constantemente os elementos desse gênero literário.
Para começar com o enredo, que parece se repetir em todos os livros de todas as autoras. A garota tímida começando uma nova vida conhece o bonitão, sensual e malvado, eles se apaixonam, passam por problemas, transam e tudo da certo no final. Desse modo, as histórias acabam sendo previsível e sem grandes ações.

Elas geralmente envolvem elementos como amor à primeira vista, dependência emocional, triângulo amoroso e sexo. Mas isso pode ser o ponto principal para chamar a atenção de um público determinado, pois pessoas que gostam desse tipo de enredo vão comprar mais livros por se identificarem com a história e gostarem da narrativa. Beatriz Tonnetti é leitora do gênero e diz que “pelo ato de ser bem clichês e as pessoas (inclusive eu) leem e gostam”.

Um exemplo claro é a série de livros da autora Jamie McGuire que, começou com 3 romances e agora já está com quase 8 publicações, desde sua série Belo Desastre até Irmãos Maddox. Larissa Bomfim, que já leu a série, resume muito bem todos esses livros em algumas linhas: “garoto conhece garota, ele se apaixona, ela não quer nada com ele, ele insiste, ela começa a ver que na realidade quer ficar com ele, eles ficam juntos, brigam, quase morrem e percebem que não conseguem viver um sem o outro.”

Porém, Bianca Briones, autora da série NA “Batidas Perdidas”, considerdownload (3)ada uma das primeiras brasileiras no a publicar o gênero, não acredita no mito de que todas essas histórias são iguais. “O mesmo enredo daria a eles histórias muito parecidas, né? Acho que algumas características acabam batendo.” Segundo ela, seus livros sempre terão algumas características próprias, não importa o gênero. Romance, drama e um pouco de humor sempre estão presentes em seus livros.

Outro tópico muito criticado no NA é a descrição das personagens. O desenvolvimento de cada um é bem variado, podendo ser superficial, totalmente profundo ou com detalhes ao longo do livro, direcionando nossa atenção mais para a trama. O foco muitas vezes passa a ser a atração repentina e a relação instantânea que as personagens tem entre si.

A mulher nesses livros pode ser tímida, considerada fraca, que dependo do homem assim que ele aparece em sua vida. Em outros ela pode ter sofrido demais por amor e agora quer saber apenas de relações casuais. Ela também pode ser uma garota forte, bem decidida, mesmo que o enredo seja o mais clichê de todos.

Porém, quando qualquer uma dessas personagens perder sua liberdade e independência por conta do novo grande amor, encontramos um problema.
As pessoas podem acabar confundindo relações de dominação, que envolvem mais uma parte sexual, com relacionamentos abusivos, permeados de ciúmes doentios e agressões graves.

 A autora de 50 Tons de Cinza diz que chamar as relações que seus personagens tem de abuso doméstico é relativizar as mulheres que sofreram isso e tirar o empoderamento das que gostam desse tipo de relação.

“Nada me irrita mais do que as pessoas que dizem que o livro é sobre abuso doméstico. Trazer o meu livro neste contexto trivializa as questões, ignorando mulheres que sofrem esse tipo de abuso. Ele também ignora mulheres que gostam deste estilo de vida.”
E.L.James

O enredo do filme, segundo o site Cinéfilos, é um tal de “vai não vai”. “A personagem e a história se tornariam muito mais interessantes se esse fosse o rumo tomado pelo filme [quando Anastasia não aceita as imposições que ele a coloca, até ameaçando deixa-lo], mas não é o que ocorre. Como já foi dito, houve uma tentativa de mudança no paradigma de pensamento de Anastasia. Em cenas subsequentes as quais ela geralmente se posicionava contra Christian, no entanto, coisas extremas aconteciam e, colocada sempre em situação de vulnerabilidade, Ana sempre cedia às vontades do magnata.” Isso coloca em cheque a própria produção do filme, como eles quiseram construir a personagem feminina. Eles poderiam ter tornado as ações e falar de Ana mais empoderadas, sem sair do enredo do filme, mas eles optaram por deixa-lá mais retraída, submetida às vontades de christ.

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Mulheres que querem um relacionamento de dominação com seu parceiro têm o direito de escolher e sabem as consequências, enquanto mulheres que sofrem abuso foram violadas e não tiveram nenhum direito. Beatriz acrescenta ainda que “o que eu mais vejo são relacionamentos claramente abusivos sendo vendidos como ‘relationship goals’”. É importante diferenciar bem esses tipos de relação. Porém, a jovem estudante acredita que as coisas estejam mudando, que as autoras começaram a escrever mais sobre mulheres empoderadas e que sabem o que querem.

Bianca diz que se colocasse uma de suas personagens em nível inferior, “ela saíria do livro e me bateria.”

“Minhas mulheres são fortes, intensas e guerreiras, ainda que tenham fragilidades, afinal são bem humanas.”
Bianca Briones

Mas, depois de um assunto pesado, vamos dar algumas risadas. Outro ponto abordado por leitores são as descrições hilárias das relações sexuais das personagens. As descrições dos livros NA chegam a ser engraçadas por usar palavras diferentes para designar os atos em si. Com isso também conseguimos explicar um pouco do nome do gênero. O NA acaba se distanciando do que chamamos de BDSM, que são os livros que tem prioridade na descrição de relações sexuais e deixam o enredo básico. Os livros NA são chamado assim por explorar um mundo além do sexo intenso, pois não é um romance erótico. Eles narram a transição da adolescência para a vida adulta, o primeiro emprego, as superações e os relacionamentos que vieram com toda essa mudança. Larissa completa dizendo que “no fim das contas, NA é sobre isso: essa fase de descobertas que todo mundo passa. Existem muitos livros sobre o drama adolescente e também alguns sobre a fase adulta. Mas e o meio termo? Isso é exatamente o NA.”

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Esse gênero pode ser confundido com o chamado Young Adult, porém a diferença é simples. Embora os enredos de ambos puxem para o clichê, os livros YA tratam de uma faixa etária inferior ao NA, aproximadamente de 14 a 18, quando o jovem adolescente passa pela escola, sofre bulling, acha o primeiro grande amor, precisa enfrentar a separação dos pais e muito mais.

Este é o universo encantador dos livros New Adult, que enchem seu coração com história românticas, que enchem seus olhos com relacionamentos envolventes e completam a sua estante com as mais diversas capas.

Espero que tenham gostado,
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C.S.

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