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10° postagem: resenha O último adeus

16105794_1606054946087630_4705489770013906466_nDesculpa, mãe, mas eu estava muito vazio.

Olá leitores,

Todas as pessoas tem problemas. Problemas pequenos que apenas passam, ou grandes problemas que nos acompanham todo dia, como uma nuvem preta na nossa cabeça. Cada um tem um jeito de lidar com essa dor, com esse sofrimento. Algumas pessoas distraem a cabeça, outras bebem até nas lembrar de nada, outras vão ao terapeuta procurar ajuda, porém uma parcela dessas pessoas não vê solução e tiram a própria vida, assim como Ty.

Alexis está no último ano do colégio, quase entrando na faculdade. Gênio em matemática, a garota sonha em ir para o MIT (Massachusetts Institute of Technology). Ela mora com a mãe e com o irmão e há três anos o pai saiu de casa. Uma família comum com um problema, mas parece que Ty fica realmente triste com o abandono do pai e tenta se matar tomando muitas cartelas de Advil. Não deu certo, mas depois de um tempo parece que essa depressão acabou. Ele conheceu uma garota muito legal no colégio, entrou para o time de basquete e tornou-se popular. Porém, em uma noite, Lex recebe uma ligação que mudará tudo: seu irmão havia se matado com um tiro no peito.

A partir daí, a vida da jovem sai dos trilhos. Ela começa a frequentar um terapeuta que faz com que ela escreva um diário sobre as últimas lembranças com o irmão. Seus amigos e colegas ainda a tratam como se ela fosse frágil. A mãe não para de chorar e ela é obrigada a terminar seu relacionamento por não conseguir encarar mais Steven, seu ex. Com todas essas desventuras, acompanhamos Alexis na sua jornada de entender o porquê do suicídio do irmão.

A história é dividida entre a narrativa de Lex e seu diário. A letra em itálico indica o diário, enquanto a normal é a história. A cor das letras também é diferente, azul, para representar uma caneta. Lex está em um dilema: é a menina dos números, das artes exatas, não tem afinidade com a caneta e não consegue escrever sobre seu irmão, muito menos lembrar dele. A constituição do livro foi o que mais me encantou. Os riscos, os detalhes pensados para remeter à história é que fazem a diferença na hora de ler. A Darkside Books é especialista quando trata-se de capa e ideia inovadoras.

“Mas a página em branco boceja para mim. A caneta não parece natural na minha mão. É muito mais pesada do que um lápis. Permanente. Não existe borrachas na vida. Eu riscaria tudo e começaria de novo” pág. 16

Antes de cada passagem no diário, há diferentes rabiscos, dando a entender que é realmente um diário escrito, com se ela estivesse riscando antes de começar a escrever. Mas se você quer refletir de verdade, pode perceber que a intensidade deles vai diminuindo enquanto a história acontece, como se Alexis estivesse se libertando de algo. Esses detalhes realistas, assim como o Post-it na capa do livro, deixam a leitura mais interativa, desperta nossa imaginação para a história, nos faz imaginar Lex escrevendo realmente no diário, riscando as partes que não gosta. Além disso, a descrição de Cynthia Hand sobre o buraco no peito de Lex, que se forma quando ela pensa no irmão, é tão bem traduzida que nos faz sentir esse aperto, sentir a falta de ar, a tremedeira, e necessidade de sair dali.

É um romance de dar arrepios por suas passagens emocionantes e com um q de suspense, como quando Lex sente o perfume do irmão. Escrever mais sobre esses momentos seria dar spoiler, mas precisamos ter um espirito livre para sentir todas essas emoções (espero que tenham entendido)

344 páginas que inundam nossa mente com sentimentos diferentes. Li ávida para saber o que ia acontecer na próxima página, mas, de certa forma, o enredo é simples. Acompanhando a vida de Lex desde as coisas banais como café da manhã, a emoção de entra na faculdade, o carro não pegar e aulas de matemática, até as mais trágicas, como ter sonhos com diferentes mortes para o irmão, encontrar uma carta escondida do irmão para a ex- namorada e invadir a casa de um amigo achando que tinha causado seu suicídio… também. É uma leitura tranquila e rápida, com algumas grandes emoções, mas também cercada de coisas banais que fazem toda a diferença para o contexto geral.

“Mas eu nunca fiz um plano de verdade para acabar com a minha vida. Tinha muito medo de morrer. Da escuridão. De deixar de existir.” Pág. 58

Em setembro de 2016 houve uma campanha chamada Setembro Amarelo, na qual todos se propunham a ajudar qualquer pessoa que estivesse passando por uma faze difícil. Se você, leitor, não está se sentindo bem consigo mesmo, não precisa esperar até setembro. Pode recorrer a sua família, a uma amigo de confiança, a um terapeuta ou até a instituição voltadas a ajudar pessoas com esse tipo de aflição, com pensamentos ruins. Sempre há uma solução.

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype 24 horas todos os dias.
http://www.cvv.org.br/ ou ligue 141

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Passagens favoritas

“Nada a ver comigo. Nasci com números no cérebro. Penso em equações. O que eu faria, se conseguisse escrever e produzir algo útil, seria pegar minhas lembranças, esses momentos efêmeros e dolorosos da minha vida e encontrar uma maneira de somá-los, subtraí-los e dividi-los, inserir variáveis e movê-los, tentar isolá-los, descobrir seus sentidos ilusórios, traduzi-los de possibilidades a certezas.” Pág. 16

“A ideia pode ter surgido em vários lugares diferentes: naquela cena na série Crepúsculo, na qual Edward tenta se matar quando acha que perdeu Bella, porque sim, é a reação perfeitamente razoável quando não se pode ficar com a pessoa que você ama: morrer. Ou no modo casual com que as pessoas dizem Estou me matando de fazer (preencha o espaço). Ou no dr. Kervorkian, ou na pena de morte, ou no noticiário, que está sempre divulgando algumas histórias horrorosas a respeito de uma pessoa maluca com uma arma e o desejo de morrer. Ou em Romeu e Julieta, na aula de literatura, ou no filme Se Enlouquecer, Não Se Apaixone, ou em uma coleção de poemas de Sylvia Plath da estante da mamãe, da sua época de faculdade […]” Pág. 251

“É um baita clichê, a ideia de que ‘o tempo cura todas as feridas’, mas é verdade. Os clichês são clichês por algum motivo, acho”, diz Sadie quando vamos para o quintal da frente da casa dela.” Pág. 292

Espero que tenham gostado
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Muitos beijos
C.S. 

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